Pontos de interrogação, principalmente relacionados aos impactos da variante Delta ao redor do mundo, circundam diretamente a logística para a realização da COP26 em Glasgow, na Escócia, há pouco mais de três meses da Conferência do Clima. Haverá COP este ano? Essa é uma pergunta que ainda não pode ser descartada.
O tempo está feio para quem não lida bem com incertezas. Uma chuva de indagações marca os meses que antecedem a COP26, trazendo fortes emoções para quem está acostumado a ações planejadas com antecedência. Haverá quarentena? De quantos dias? Quem pagará a conta? Como o governo do Reino Unido vai honrar o compromisso de realizar uma COP inclusiva ao tratar das delegações de países que não têm como se vacinar ou como arcar com as despesas da quarentena? Como será feita a testagem e qual será o tratamento aos casos diagnosticados como positivo durante o evento? Haverá COP26 este ano? Essas são apenas algumas das dúvidas que circundam a realização da mais esperada Conferência do Clima dos últimos tempos, marcada para ocorrer entre 31 de outubro e 12 de novembro em Glasgow, na Escócia.
São esperadas para a COP26 entre 20 e 25 mil pessoas. A expectativa é de que essa será a Conferência que marcará uma virada de página na história, para efetivamente fechar o livro de regras e apontar o ‘como’ iniciar a implementação do Acordo de Paris. O evento, que seria realizado em 2020, foi adiado para este ano devido à pandemia.
Com a divulgação do 6º Relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima, na sigla em inglês), aumentou ainda mais a pressão para que o governo britânico de Boris Johnson intensifique os esforços diplomáticos e assegure o sucesso das negociações. Em contrapartida, ativistas e lideranças políticas reclamam que o primeiro-ministro de não estar dando a devida atenção à Conferência.
A UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima) está trabalhando em parceria com agentes de saúde do governo escocês e da prefeitura de Glasgow para realizar um evento seguro e inclusivo.
A experiência ocorrida no Japão durante as Olimpíadas acendeu um sinal de alerta para a necessidade de cuidados redobrados com a saúde dos participantes de eventos de grande magnitude, como é o caso da COP26. Aquele país viu crescer exponencialmente o número de casos de Covid-19 em julho e agosto. Só em Tóquio, os registros passaram de 1.359, no primeiro dia dos jogos olímpicos, para 5.405, no dia 20 de agosto, segundo o site Our World in Data.
A Convenção da Diversidade Biológica (CDB), que seria realizada em outubro, na China, foi adiada para maio do próximo ano, devido ao aumento do número de casos de Covid-19 em decorrência da variante Delta.
Confira abaixo algumas das respostas disponibilizadas até agora no site oficial da UNFCCC. Novas atualizações estão prometidas para os próximos dias. De acordo com o próprio site do governo escocês, as regras podem mudar em qualquer tempo, por isso, o viajante deverá se manter informado. Ficaremos de olho para se atualizar por aqui.
Afinal, haverá ou não quarentena?
Sim, haverá quarentena para os participantes oriundos dos 62 países que hoje (31/08) integram a “lista vermelha”, entre eles o Brasil. A quarentena poderá ser de 10 dias para pessoas que não estão vacinadas, e de cinco dias para indivíduos que estão vacinados e que vêm de algum dos países da lista vermelha. O governo britânico anunciou isso como um relaxamento das regras para os participantes da COP. Não haverá quarentena para pessoas que chegam ao Reino Unido oriundas dos países das listas âmbar e verde. O isolamento deverá ser cumprido no local de chegada. Estima-se que a grande maioria dos participantes da COP26 vai chegar ao Reino Unido por Londres.
O governo escocês requer que os passageiros preencham um formulário e enviem gratuitamente, em até 48 horas antes da sua chegada ao Reino Unido. O formulário também deverá ser apresentado no check-in, seja de avião, trem ou balsa. Todos devem apresentar um teste negativo de Covid antes de embarcar para o Reino Unido. Para entrar na Escócia, o indivíduo deverá fazer um teste de Covid-19 no dia ou dois dias antes de embarcar, e depois da quarentena. O dia da chegada conta como dia zero.
Quem pagará a conta?
Ainda não há detalhes sobre os custos da quarentena. Em média, esse valor tem sido de 2,2 mil libras esterlinas por pessoa (cerca de R$ 16,5 mil). Por outro lado, o Reino Unido aceitará a entrada de vacinados com qualquer imunizante, e não apenas aqueles aprovados oficialmente no país. O governo Boris Johnson declarou que ainda está fazendo cálculos para dizer se poderá arcar com pelo menos parte das despesas, segundo o site Climate Home News.
Reações adversas: críticas mencionam até em “Apartheid de vacinas”
O anúncio de necessidade de cumprimento de quarentena antes da COP provocou reações principalmente entre representantes dos países pobres e em desenvolvimento. Eles afirmam que a medida vai erguer uma barreira para a participação equitativa entre as nações, principalmente devido aos altos custos de hospedagem na chamada “terra da rainha”.
Um dos críticos foi o ministro do Clima do Paquistão, Malik Amin Aslam. “Isso é totalmente injusto, dada a natureza global do evento. (…) A política de Covid e o apartheid de vacinas devem ficar de fora de uma cúpula internacional tão importante”, afirmou, referindo-se ao fato de o Reino Unido ter sido um dos países ricos a fazer um enorme estoque de vacinas (muito além da necessidade) mesmo antes da aprovação final, pelos órgãos de regulação em saúde, dificultando o acesso dos países mais pobres à vacinação.
“A luta do Reino Unido para tentar tornar a #COP26 segura de Covid após bloquear a #PeoplesVaccine (hashtag usada na defesa de acesso equitativo de vacinas entre países) não demonstra só pensamento desunido por parte do governo britânico. (Indica também que) os ricos podem viajar livremente, e os pobres, se obtiverem um visto, terão de ficar de quarentena e pagar pesadas contas de hotel”, repercutiu no Twitter Asad Rehman (@chilledasad100), ativista do movimento Black Lives Matter.
Outro depoimento sobre a medida, dado à equipe do Climate Home News, foi o de Aubrey Webson, presidente da Aliança dos Pequenos Estados Insulares. Ele disse que um quarto dos delegados desses países terão de cumprir a quarentena, pelas regras britânicas. “Chegar a Glasgow já será um esforço quase intransponível para muitos países em desenvolvimento … e, agora, eles podem nos cobrar para vir a uma conferência para negociar nosso futuro (os países insulares serão altamente impactados pelas mudanças do clima, principalmente por eventos extremos e aumento do nível dos mares). Esse fardo pode muito bem ser um ponto de ruptura”, sentenciou.
Ainda de acordo com a matéria assinada por Chloé Farand, o governo britânico está negociando a flexibilização das regras de quarentena de trânsito, junto aos governos da Austrália e da Nova Zelândia, para negociadores e observadores oriundos das pequenas ilhas do Pacífico, que precisam fazer conexões de voos naqueles países para poder viajar para Glasgow.
Durante o credenciamento de delegados para a COP26, encerrado em 23 de julho, o governo britânico também ofereceu vacinas a todos, para ampliar a participação. As doses ainda estão sendo aplicadas. O número de pessoas que se registrou nesse esquema ainda não foi divulgado.
Os indivíduos são considerados totalmente imunizados duas semanas após completar o ciclo da vacinação (com duas doses, no caso da maior parte das vacinas). A terceira dose de reforço não será exigida.
Como será feita a testagem durante o evento?
Quem vencer as barreiras sanitárias e econômicas e conseguir atender ao evento será submetido a rígidos protocolos de testagens periódicas durante todo o evento. As regras valerão inclusive para os delegados que estão totalmente vacinados. Haverá pontos de testagem e estrutura laboratorial para oferecer resultados rápidos durante a conferência.
Os protocolos de isolamento para quem testar positivo durante a COP26 ainda não foram divulgados. Mais informações serão fornecidas no site do Brasil Climate Action Hub, em português, e na página da presidência da COP26, em inglês e italiano. Ficaremos de olho!